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O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“A resistência à massa organizada somente pode ser efetuada pelo homem que é tão bem organizado em sua individualidade quanto a própria massa.”    C.G.Jung

 

 

 

     O grande diferencial na abordagem de Jung está no que ele denominou como Processo de Individuação. Partindo da observação que no inconsciente humano existe um centro - Self (ou selfbest)-, a terapia então segue como objetivo central este encontro – ou reencontro – com o si-mesmo.

     Antes de tentar compreender o processo de individuação é interessante analisarmos os conceitos sobre “Indivíduo” na psicologia analítica. A origem etimológica de individuo remete-nos aos conceitos de algo in-diviso, ou seja, um estado ou condição não divisível no homem. Jung pauta o Processo de Individuação conforme essa idéia, pois para ele o individuo é o “ser singular”, caracterizado por sua psicologia peculiar e única. Diz Jung: “O indivíduo psicológico, ou a individualidade psicológica, existe inconscientemente a priori, mas só existe conscientemente na medida em que haja uma consciência de sua natureza peculiar, isto é, na medida em que haja uma distinção consciente em relação aos outros indivíduos.” O que pertence ao Indivíduo, portanto, é o que de fato pertence somente a ele e que o diferencia do coletivo.

     

     E como sabermos o que é próprio do indivíduo ou do coletivo? No processo de individuação busca-se tornar consciente esta ideia do indivisível no homem, do singular; o desenvolvimento do indivíduo psicológico como ser diferenciado da psicologia geral, coletiva. Diz Jung: “A individuação é, portanto, um processo de diferenciação, cujo objetivo é o desenvolvimento da personalidade individual”.

     

     Várias etapas e assimilações envolvem o desenvolvimento da consciência nesta direção e, muitas vezes, uma vida inteira é levada para tal realização. Diz Jung: “O processo de individuação consiste num intenso esforço analítico que se concentra, com a mais rigorosa integridade e sob a direção da consciência, no processo psicológico interno, alivia a tensão nos pares de opostos por meio da mais alta ativação do conteúdo do inconsciente, adquire um conhecimento prático de sua estrutura e conduz, em meio a todas as aflições de uma psique que perdeu o seu equilíbrio, desbravando camada após camada, àquele centro que é a fonte e a base final de nossa existência psíquica – ao núcleo central a que chamamos o Eu.”

 

     E mais : “O curso de individuação que foi traçado em linhas gerais apresenta um certa regularidade formal. Os seus marcos ou pontos de referência são vários símbolos arquetípicos, cuja forma e manifestação variam de acordo com o indivíduo. Descrever os símbolos arquetípicos do processo de individuação em todas as múltiplas formas em que se apresentam exigiria um amplo conhecimento e exame das diferentes mitologias e descrições simbólicas da história humana.” E então fala da importância dos Arquétipos: “Existem, porém, certos arquétipos que parecem estar universalmente identificados com os quatros estágios principais do processo de individuação e ser característicos desses estágios. Em ordem cronológica, são : (1) o arquétipo da sombra; (2)- o arquétipo da imagem da alma; (3) o arquétipo do velho sábio (nos homens) ou da Magna Mater (em mulheres); (4)- o arquétipo do eu.

 

     Pode parece que o processo de individuação, por ter a diferenciação do coletivo como parte da dinâmica, indique que o individuo tenha que se isolar ou ficar alienado às coisas do mundo. Contudo, a lógica é exatamente a inversa, pois como esclarece Jung: “a individuação não exclui a pessoa do mundo, mas aproxima o mundo dela”. E as teorias psicanalíticas como um todo concordam em que “tanto a identificação com o coletivo como a segregação voluntária dele são igualmente sinônimos de doença.” Assim, quanto mais a pessoa se integra no processo de individuação mais portas as do mundo se abrem e “como o individuo não é apenas um ser à parte, separado, mas pressupõe, pela sua própria existência, uma relação coletiva, segue-se que o processo de individuação deve conduzir a relações coletivas mais amplas, e não ao isolamento”, explica Jung.

 

     Conclui-se que o resultado para quem vive verdadeiramente o processo de individuação é o conhecimento de si mesmo, no sentido mais profundo que possamos entender, mas não sem antes passar por profundas batalhas e transformações, “descidas ao inferno”, para somente então poder contemplar a numinosidade do Ser.

 

      Para encerrar, um trecho do Tao te King, atribuído a Lao Tsé :

     Quando um sábio superior ouve falar do Caminho, ele O percorre com muita sinceridade. Quando o sábio mediano ouve falar do Caminho, às vezes ele O segue, às vezes O esquece. Quando o sábio inferior ouve falar do Caminho, ele dá sonoras gargalhadas.

E se ele não der sonoras gargalhadas, esse não seria o Caminho. (Logo, se buscas o Caminho, segue o som das gargalhadas!)

Alberto Maury - Psicólogo e Diretor do Instituto Órion de Psicologia 

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